Para mim, uma das coisas mais incríveis na vida é o entra e sai de pessoas em nossos círculos de amigos e família.
Hoje, mais uma vez me dei conta que família são aqueles que a gente escolhe.
Fui na formatura da minha prima mais nova e fora todos os rituais de colação de grau, paranínfos, oradores e blá blá blá, a coisa foi rápida e legalzinha. Não fui na maior das boas vontades, pois uma vez formado, toda formatura é um saco. Nas vezes em que o formando realmente vale o esforço, eu me divirto. Nas outras vezes, fumo meu cigarro na rua e fico devaneando durante todo o evento. Penso na cotação do euro, se fiz coco, se paguei a TV a cabo. Hoje foi tudo muito rápido para dar tempo às minhas loucuras.
Chorei ouvindo o hino nacional. Sim, uma lágrima escorreu mesmo eu enrolando 60% da letra. Sim, eu não sei o hino todo! Chorei por me lembrar que um dia, em algum lugar, vou sentir saudades daqui e chorarei ao ouvir o “dos filhos deste solo és mãe gentil. Pátria amada,
Brasil.”
Mas vontade de chorar mesmo foi quando revi a família do meu pai – não é mais minha há tempos – na saída da colação. Já postei nesse blog minhas indiferenças e mágoas com aquela gente e vou poupar vocês, caros leitores, dessa histórinha de intrigas e desprezos. Mas é impossível eu dormir esta noite sem desbafar nesse teclado minha tristeza.
Se o Instituto Butantã desse uma blitz lá, meus ex parentes seriam enjaulados na hora. Um bando de cobra, víboras. Um cinismo a flor da pele. Me senti mais uma vez um lixo perto daquela gente. Fora a formanda e o pai dela, os quais eu ainda nutro um grande carinho, o resto se trocar por merda, o cu tem prejuízo. Tinha tudo para ser uma boa festa. Lugar bom, som bom, comida excelente, mas a cara de bunda do meu pai para mim e para a mãe era algo. Meu pai muda completamente quando está ao lado da irmã dele e suas filhas. Tudo parace girar em torno delas, como sempre. Meu diálogo com o meu pai girou em torno de “como tu tá gordo”, “falou com a tua tia?”, “não corre”. Só isso. Um monólogo na verdade. Ele falando nas poucas vezes que ficou ao nosso lado e eu lá quieto, com uma vontade louca de mandar todos a merda e me mandar.
A sensação que eu tive durante toda a noite era de que a qualquer momento uma outra família do meu pai, nova esposa, novos filhos iriam aparecer e os seguranças teriam que colocar eu e minha mãe no vaso sanitário e puxar a descarga.
Minha maior chateação foi parecer ser sempre menor e menos importante para o meu pai do que a vizinha da cunhada da minha tia. Todos recebiam sorrisos, passadinhas na mesa e nós só recebemos as críticas e cobranças.
Quem me conhece sabe que eu nunca deixo de gostar de alguém sem motivo concreto. Para mim, todo mundo é legal, até que me provem ao contrário. Me provaram há tempos que aquele gente não presta (para mim, pelo menos). Aliás, eles mesmo provam de tempos em tempos o quão podres eles são.
Que aqueles que se dizem meus parentes fossem os mesmo idiotas que sempre foram eu entendo. Mas que o meu pai mais uma vez faça questão de ser um deles, eu não admito. Demorei muito tempo para assimilar e aceitar que a gente não é obrigado a gostar dos nossos laços sanguíneos. É meio estranho isso, mas faz parte da minha vida e com certeza da de muitas pessoas. Não gosto deles. Não faço questão que gostem de mim, falem comigo ou olhem para mim.
Só quero estar longe da maioria. A formanda, querida. Gente boa, provavelmente também não mereça os insuportáveis com o rei na barriga – tudo pobre metido a besta – mas cada um tem um nível de tolerância.
Amo de amar mesmo, pai, mãe e mano. Alguns outros, um carinho. Por outros, nem uma golfada de vômito traduziria o que eu sinto.
Em compensação, às vezes a vida nos brinda com pessoas muito melhores no nosso caminho. E com certeza isso me fez encontrar, tias, tios, primos, primas, irmãos e irmãs que mesmo não tendo um mililitro de sangue em comum comigo, são aqueles com os quais eu sei que posso contar a vida toda e com certeza me divertir nas formaturas
A todos esses, meu mais sincero obrigado!