Depois de cinco horas do previsto, peguei um vôo de Porto Alegre à Sampa e de lá para Cuiabá.
Graças ao fuso horário daqui que é uma hora a menos em relação ao horário de Brasília, consegui chegar a tempo de montar o evento a noite.
Chegar usando blusão de lã em Cuiabá não é nada agradável...
Depois de ter montado tudo e ter virado um sacolé sabor suor e pó, fui para o hotel onde eu deveria tomar um banho longo e dormir, relaxar e não acordar com a cara da Amy Winehouse. Deveria ficar, pois "por um erro (overbooking), não temos quarto para o senhor hoje a noite (01h da madrugada), mas colocaremos o senhor em outro local..."
Mas ao invés de me colocarem num Deville da vida, me colocaram num DAVILLA em Várzea Grande, cidade coladinha a Cuiabá, separada pelo rio e por, digamos, "casinhas humildes em ruelas escuras, povoadas de pessoas suspeitas".
Chegando no hotelzinho chinelão, minha surpresa: não tinha elevador, meu quarto era no terceiro andar, duas malas, uma mochila e um laptop de baixo do braço escada acima. Nesta hora eu já me sentia fedendo mais que mendigo e só queria tomar um banho e uma ceva gelada. No mini quarto amarelo (alguém pode explicar para os decoradores de plantão que amarelo em locais pequenos pode enloquecer alguém?) tinha uma cama com um colchão tão grosso quanto o meu celular e só.
Um dos funcionarios entrou no banheiro, foi até o chuveiro e falou: ué, não tem frigobar neste quarto. Vou buscar um pro senhor.
Medo 1 - o frigobar fica de baixo do chuveiro? Tomo banho e me sirvo ao mesmo tempo, correndo o risco de morrer eletrocutado em Várzea Grande?
Medo 2 - o frigobar, na verdade, era uma caixa de isopor com gelo já que ele iria trazer um pra mim?
Dois minutos depois, eu descalço e tirando a roupa, batem no porta para me trocarem de quarto, pois "não tem como tirar o frigobar". Óbvio que não!!!! Não tinha a menor dúvida.
Já quase duas da matina e exausto, abri uma ceva para relaxar enquanto preparava o material da palestra. Duas latinhas e capotei na cama, de cueca, suado, podre. Durante as três horas de sono que me separavam entre sair daquele lugar e ir para o hotel decente, sonhei que tava tomando banho, colocando meu pijama quentinho (na minha casa)... e ao acordar a primeira coisa que fiz foi abrir o chuveiro elétrico!!!! Tudo bem que a cidade é um forno, mas chuveiro elétrico é foda em qualquer temperatura, pois sempre, sempre é entupido e os micro jatos d'água sempre descem em direções opostas.
Me lembrei do banho em Veneza em que para molhar os cabelos, eu tinha que andar em roda no box catando as gotas. A primeira água que desceu veio numa temperatura capaz de cozinhar beterraba em 1 minuto. Olhei ara os 5 (sim, cinco) registros e fui tentando abrir mais a água... mais... mais....puff. Acabou a água!!! Eu tinha molhado as "partes importantes", pois sempre que tenho medo de não conseguir acabar o banho, me protejo lavando de baixo dos braços e a ... a Disney! Fui para a pia. Sem água. Liguei para a recepção e ouvi um "acabou a água no bairro, senhor". Me dei conta que o chuveiro era elétrico e corri pro banheiro tentando, em vão, decobrir qual dos malditos cinco registros fechava o chuveiro e .... explodiu o chuveiro.
Tenho pânico de chuveiro elétrico por isso. Enquanto o chuveiro tremia todo soltando mais fumaça que a bomba atômica, eu coloquei a roupa (meio ensaboado ainda) e desci correndo com as duas malas, mochila e laptop. Seis da manhã, eu um trapo humano, com uma cara de louco, sem banho passei reto pela recepção em direção ao carro do motorista do outro hotel que viera me buscar, pois o combinado era que o café da manhã já seria no hotel bom. Minhas únicas palavras foram:
Se tivessem me avisado que não tinha água, eu não teria queimado o chuveiro! Corre lá que ainda tá derretendo. Ah, e não vou pagar as duas cervejas por isso. Tchau!De volta ao hotel bom, tomei um dos melhores banhos da minha vida, onde não podia abrir o máximo da água, caso contrário seria esmagado na parede da frente. Café da manhã muito bom. Não vejo a hora de poder sentar e comer com calma, pois meus cafés da manhã em hotel são sempre em cinco minutos.
Já no carro indo pro evento, contei pro Jairo o que tinha acontecido e ele ficou impressionado com a minha capacidade de não me irritar e não reclamar. Pensei comigo mesmo: aos 31 anos de idade, já tá na hora de ser um pouco mais exigente e deixar de ser babaca, sempre o querido para os outros. Passei a vida nesta resistência.
From now on, I'm gonna be the bitch!